31.10.07

Posso pegar?

O post mais recente da Mulher Aspirina, divertidamente intitulado Melões pêra aqui pêra cintura, me lembrou uma historinha divertida...

Uma ex-colega de faculdade, hoje casada e tals, era completamente des-peitada. Como gostava de se vestir de maneira, digamos, extravagante - quase uma drag!, brincava eu -, precisava com urgência provindenciar um par de peitos um pouco mais avantajados - pra parecer mais menininha!, tripudiava eu.

Após um período reclusa, ela reapareceu ostentando um lindo par de peitos. Dela, lógico. Comprou e pagou. Eu não tive a menor dúvida... como nunca havia pegado num daqueles - nem em qualquer outro, socorro! - enfiei a mão nos melões de silicone! Com gosto!

Eu, que esperava dela alguma reação como um simples gostou?, fiquei paralisado com o grito que ela soltou, como o de Macaulay Culkin em Esqueceram de Mim.

Apesar de ser quase uma drag, ela era apenas uma menina. E nunca conversamos sobre o assunto. Não ao menos até agora...

29.10.07

A morte...

Divido com vocês minha experiência de ontem com o grupo Harapo de Títeres, de Buenos Aires. Eles estão por aqui participando do Festival Internacional de Teatro Goiânia em Cena. Peço perdão pela má qualidade do vídeo. Eu estava sem tripé e sentado no gramado, sem a menor condição de deixar a imagem um pouco menos tremida. Mas vale pela risada deliciosa do ator Marcelo Peralta (se não me engano).

28.10.07

Pride and prejudice

Uma Parada encerra hoje a celebração da semana do orgulho gay goiano. Nunca participei de uma Parada. Uma vez, fiquei apenas olhando da calçada, vendo a galera passar, mas sem me manifestar 'sexualmente', se é que vocês me entendem. Mais uma vez, não vou participar da Parada este ano. Não vejo graça.

Sobre minha sexualidade, me interessa mais buscar notícias como esta. Adorei saber, por exemplo, que os Nematóides são sempre machos ou hermafroditas. E que os hermafroditas não precisam dos machos para nada, mas os deixam 'chegar junto' vez ou outra.

Os Nematóides medem cerca de um milímetro de comprimento. Como eles não têm olhos, a atração sexual é determinada pelo olfato. No mundo deles, imagem não é nada, sede é tudo! Cientistas estadunidenses utilizaram esses seres-nada-gays em uma experiência que pode dividir águas: a orientação sexual de um indivíduo poderia ser influenciada por fatores genéticos.

Não que gays tenham características físicas e psicológicas parecidas com as de um Nematóide, mas deixar claro que o cérebro desses organismos é sexualizado é um bom passo para que, no futuro, não precisemos mais organizar Paradas do Orgulho Gay. Eu não precisaria ter orgulho de uma coisa que estaria provado que nasceu comigo e, portanto, não teria sido fruto de um amadurecimento pessoal.

27.10.07

O caso da mala vermelha

Estou me coçando para entrar em algum site de notícias para conferir se há algum 'caso da mala vermelha' para ser resolvido nas páginas policiais. Mas temo ter sido conivente com o crime e seguro meus dedos para que não teclem essa frase em nenhum site de buscas.



Este post é para dar as boas vindas ao meu amigo Luciano, que voltou da Argentina. Fui ao aeroporto por dois motivos. Além do retorno do Lu, uma amiga chegava de Brasília em horário parecido e eu havia prometido buscá-la.

Com o atraso de ambos os vôos, me dirigi ao piso superior para verificar os pousos das aeronaves, afim de ver logo quaisquer dos dois chegando. Por aquele momento ninguém baixava por alí, mas alguns aviões partiam de Goiânia rumo a algum lugar deconhecido por mim, preguiçoso demais para conferir no monitor.

Dois caras estranhos parados ao meu lado conversavam freneticamente ao celular. Um deles era daqueles tipos horripilantes que confundem aparelhos de telefonia celular com walkie-talkies. Repousam o telefone no ouvido para escutar e o levam à boca para falar, como se fosse um microfone de péssimo alcance.

- Ele está usando uma camisa verde. Embarcou com uma mala vermelha. Intercepta aí! Intercepta aí!
- ...
- Da empresa... hummm... é o único que foi...
- ...
- O avião acabou de decolar.

... tic-tac, tic-tac, tic-tac, tic-tac...

- Decolou, vamos embora...

Embora queria ter ido eu! Ou talvez dar uma passadinha na Infraero. Mas pra dizer o quê? Vocês precisam interceptar o rapaz com a mala vermelha antes que eles!? Acho que ele é palmeirense, estava usando camisa verde...

Ok. Eu acabei de conferir no Google. Por enquanto, nenhuma ocorrência para "o caso da mala vermelha", com aspas. Apenas um blogue italiano e um conto sem-pé-nem-cabeça. Sem aspas, aparecem várias: o escândalo envolvendo a mala com quase 800 mil dólares da Venezuela e uma polêmica em Portugal envolvendo a mala vermelha do teletubbie gay, mas nenhuma mala vermelha que tenha saído daqui rumo a seja-lá-onde-for e que não tenha chegado ao destino final. O que, em partes, é um bom sinal.

23.10.07

Um T a mais...

Só hoje entendi o pau todo que pagam para Cillian Murphy. Já o havia visto em alguns filmes, mas não o achava tão belo, tão talentoso e tão promissor quanto o pintam. A partir de agora, ele passa a constar de minha lista de 'atores'.



Em Café da Manhã em Plutão, Cillian é Patrick 'Kitten' Brady, um transsexual que vai a Londres, 'a maior cidade do planeta', em busca da mãe, que o abandonou na porta da igreja de uma pequena cidade irlandesa. Um show! Tão espetacular quanto Felicity Huffman em Transamérica.

O filme faz parte da mostra comemorativa da Semana do Orgulho Gay de Goiânia, ou coisa parecida. Na verdade, não é gay, é GLBTT.

Eu não me contive. Em uma entrevista, tive que perguntar a uma das organizadoras que raios faz esse último T na sigla. Com o olhar da Monalisa e um leve sorriso no canto dos lábios, como se esperasse há séculos pela oportunidade de desvendar aquele segredo, a mulher me contou que os transsexuais e os transgêneros não são a mesma coisa.

Enfim, como se os homossexuais já não tivessem problemas de sobra na vida, no trabalho, em casa, na padaria, precisam agora aprender uma nova sigla a cada semana do orgulho gay que decidem fazer por aí.

20.10.07

Sob o Sol de Toscana...

Só hoje me dei ao trabalho de ir ao cinema ver do que se trata, afinal, o tão falado Tropa de Elite. Isso foi um deboche, claro... ir ao cinema hoje foi mais que especial, pois tive a companhia de minha mãe, que quase nunca topa um programa desses. Prefere quase sempre aguardar pelo conforto de uma exibição cinematográfica doméstica, seja lá o que eu queira dizer com isso. Tive ainda a companhia inédita de meu irmão do meio e de minha cunhada.

Planejamos uma sessão de cinema um pouco mais ousada, algo além de uma 'pipoca com coca-cola'. Fugimos dos multiplex e fomos ao centro da cidade tentar pegar a reação de um público que vive mais de perto a realidade mostrada no filme de José Padilha. Primeiro erro. Nada em Goiânia se assemelha a uma favela carioca, logo, esse público não existe. Aliás, a cidade tem alguma favela? Onde fica?

Ao contrário do que imaginei, o filme não fez o menor sucesso entre os menos abastados. Todos que estavam na sala tinham cara de 'classe média'. Parecem ter tido a mesma idéia que tivemos. Como o público não ajudava a criar aquele 'clima' ideal para apreciar uma obra desse naipe, os zeladores do cinema nos ajudaram desligando o ar condicionado, criando o maior climão. Minha sensação era de estar subindo o morro junto com o Wagner Moura, tamanha a suadeira.

Minha mãe achou muito violento. Minha cunhada disse que ouviu muito palavrão. E meu irmão não ouviu nada. O som do cinema era precário, com 'équio', como diz o Seo Creissom. Mas eu gostei da precariedade toda. E continuo achando que um filme como esse deve ser assistido num cinema parecido.

Juro que eu precisaria ganhar na loteria para assistir aos filmes nos locais onde acho que eles merecem ser vistos... por isso mesmo nunca assisti Sob o Sol de Toscana, por exemplo. Pra quê? Me diz! Pra quê?

18.10.07

39.2

Que temperatura é essa? Que verão antecipado é esse? A primavera não era pra ser a estação das flores? Pois ontem foi o dia mais quente da história de Goiânia, segundo o Instituto Nacional de Meteorologia. Fez 39.2º à sombra, no medidor instalado na Avenida Paranaíba, bem no centro da cidade. A sensação térmica era de ao menos quatro graus acima disso. Nem uma bola de sorvete a cada meia hora resolve, acredite.

Agora à noite, como prova de que o inferno é aqui, o calor deu espaço para uma pavorosa tempestade de poeira... uma gotinha de água aqui, uma alí... e amanhã o sol nasce pra todos (citei Renato Russo como prova de que estou no inferno).

15.10.07

Para pedalar

Como exagerei na comida neste feriado, resolvi fazer duas aulas seguidas de spinning. Meus leitores devem estar achando que sou louco, mas essa dor que vocês estão imaginando (e que eu estou sentindo! rs) pode ter algumas recompensas. Uma que vocês podem dividir comigo é um remix fabuloso de Enjoy the Silence, do Depeche Mode, que meu professor tocou durante a aula.



Clique na foto para baixar e se deleitar com a canção!

Portrait

Estava bisbilhotando a Exame e não pude deixar de notar a semelhança entre o proprietário do Habib's, Alberto Saraiva, e o homenzinho do desenho da logo da rede...



O nariz é idêntico! O sorriso lembra. Só faltou o bigodinho! rs.

13.10.07

Ah, a tecnologia....

O PC World organizou uma lista com os 10 produtos tecnológicos mais feios e estranhos de todos os tempos. A lista feita pelos jornalistas do site é muito pessoal. Contém itens absurdos, como o iMac (quem fez essa piada deveria ser queimado no mármore do inferno por profanar o design da Apple). Mas também itens indispensáveis, como a primeira versão do Windows, o verdadeiro hours concours da feiura e da falta de noção no design.

O melhor da lista são as curiosidades tecnológicas que se perderam no tempo. Não consigo dizer se esses objetos eram feios na época. Acredito que não. Mas hoje são horríveis! E, mais que isso, deveriam virar peças de museu, mesmo sendo tão 'contemporâneos'.



Esse Motorola, por exemplo, foi o primeiro modelo de telefone celular a ser lançado no mercado, em 1983. Tinha 25 centímetros de altura, pesava quase um quilo e custava quase 4 mil DÓLARES! Mas pode apostar, mesmo sendo um TIJOLO, era chiquérrimo ostentar um desses! Olhando pra essa foto, fico imaginando o dia em que vou comprar meu iPhone! rs.



Esse acima é o Osborne. Não é nenhuma homenagem ao Ozzy Osbourne, mas bem que poderia ser, devido à marmotice do design desse laptop, também o primeiro lançado no mercado, em 1981. O trambolho pesava 11 quilos. Só não entendo como alguém ousava chamar isso de portátil!!!



O último dos 10 que vou citar é esse Modem dos anos 70. Não por ele ser exatamente feio, mesmo porque isso devia ser o 'último grito' naquela época, mas por ter me lembrado daquele barulhinho da época da conexão discada. Barulhinho que, agora, vai ser difícil conseguir tirar da minha cabeça! Espero que essa incômoda perturbação não se manifeste em vocês! rs.

10.10.07

Clamor nacional



Tá certo que trata-se de uma montagem até bem grosseira, mas que representa uma espécie de 'vontade geral da nação', isso não há como negar.

No Comunique-se de hoje, Gilberto Dimenstein repercute o Rolex roubado do Luciano Huck. Diz que é uma 'lição de jornalismo'. Será? Leia aqui.

Na TV, eu não agüento mais ouvir falar de Renan Calheiros. Tenho ânsia de vômito cada vez que olho pra cara dele. Porque não chamam aquele rapaz que matou um monte nos EUA pra dar uma voltinha com a AR-15 dele lá na esplanada?

8.10.07

Do verbo 'tendenciar'...

Na Folha de hoje, a sessão Tendências e Debates repercute o artigo de Luciano Huck, publicado no mesmo espaço na última segunda-feira. A 'resposta' do rapper Ferréz mostra, pra mim, como a Folha se tornou um jornal 'tendencioso'. O correto seria destinar o mesmo espaço, que, aliás, é reservado para 'debates', na mesma edição, sem que uma parte tenha lido o texto da outra. Da forma como foi feito, é mais fácil - e covarde - que tomar pirulito de criança. Com trocadilho. Se bem que a 'vida' deu mais colher de chá pro apresentador de tv que pro rapper, né? Uma vantagenzinha de vez em quando não 'mata' ninguém.

Você não tem senha para ler a Folha? O 'Ctrl c + Ctrl v' do Rody resolve o seu problema (o da senha, não o do óculos! hahahaha!!!):

Pensamentos quase póstumos (Luciano Huck)
LUCIANO HUCK foi assassinado. Manchete do "Jornal Nacional" de ontem. E eu, algumas páginas à frente neste diário, provavelmente no caderno policial. E, quem sabe, uma homenagem póstuma no caderno de cultura. Não veria meu segundo filho. Deixaria órfã uma inocente criança. Uma jovem viúva. Uma família destroçada. Uma multidão bastante triste. Um governador envergonhado. Um presidente em silêncio. Por quê? Por causa de um relógio. Como brasileiro, tenho até pena dos dois pobres coitados montados naquela moto com um par de capacetes velhos e um 38 bem carregado. Provavelmente não tiveram infância e educação, muito menos oportunidades. O que não justifica ficar tentando matar as pessoas em plena luz do dia. O lugar deles é na cadeia. Agora, como cidadão paulistano, fico revoltado. Juro que pago todos os meus impostos, uma fortuna. E, como resultado, depois do cafezinho, em vez de balas de caramelo, quase recebo balas de chumbo na testa. Adoro São Paulo. É a minha cidade. Nasci aqui. As minhas raízes estão aqui. Defendo esta cidade. Mas a situação está ficando indefensável. Passei um dia na cidade nesta semana -moro no Rio por motivos profissionais- e três assaltos passaram por mim. Meu irmão, uma funcionária e eu. Foi-se um relógio que acabara de ganhar da minha esposa em comemoração ao meu aniversário. Todos nos Jardins, com assaltantes armados, de motos e revólveres. Onde está a polícia? Onde está a "Elite da Tropa"? Quem sabe até a "Tropa de Elite"! Chamem o comandante Nascimento! Está na hora de discutirmos segurança pública de verdade. Tenho certeza de que esse tipo de assalto ao transeunte, ao motorista, não leva mais do que 30 dias para ser extinto. Dois ladrões a bordo de uma moto, com uma coleção de relógios e pertences alheios na mochila e um par de armas de fogo não se teletransportam da rua Renato Paes de Barros para o infinito. Passo o dia pensando em como deixar as pessoas mais felizes e como tentar fazer este país mais bacana. TV diverte e a ONG que presido tem um trabalho sério e eficiente em sua missão. Meu prazer passa pelo bem-estar coletivo, não tenho dúvidas disso. Confesso que já andei de carro blindado, mas aboli. Por filosofia. Concluí que não era isso que queria para a minha cidade. Não queria assumir que estávamos vivendo em Bogotá. Errei na mosca. Bogotá melhorou muito. E nós? Bem, nós estamos chafurdados na violência urbana e não vejo perspectiva de sairmos do atoleiro. Escrevo este texto não para colocar a revolta de alguém que perdeu o rolex, mas a indignação de alguém que de alguma forma dirigiu sua vida e sua energia para ajudar a construir um cenário mais maduro, mais profissional, mais equilibrado e justo e concluir -com um 38 na testa- que o país está em diversas frentes caminhando nessa direção, mas, de outro lado, continua mergulhado em problemas quase "infantis" para uma sociedade moderna e justa. De um lado, a pujança do Brasil. Mas, do outro, crianças sendo assassinadas a golpes de estilete na periferia, assaltos a mão armada sendo executados em série nos bairros ricos, corruptos notórios e comprovados mantendo-se no governo. Nem Bogotá é mais aqui. Onde estão os projetos? Onde estão as políticas públicas de segurança? Onde está a polícia? Quem compra as centenas de relógios roubados? Onde vende? Não acredito que a polícia não saiba. Finge não saber. Alguém consegue explicar um assassino condenado que passa final de semana em casa!? Qual é a lógica disso? Ou um par de "extraterrestres" fortemente armado desfilando pelos bairros nobres de São Paulo? Estou à procura de um salvador da pátria. Pensei que poderia ser o Mano Brown, mas, no "Roda Vida" da última segunda-feira, descobri que ele não é nem quer ser o tal. Pensei no comandante Nascimento, mas descobri que, na verdade, "Tropa de Elite" é uma obra de ficção e que aquele na tela é o Wagner Moura, o Olavo da novela. Pensei no presidente, mas não sei no que ele está pensando. Enfim, pensei, pensei, pensei. Enquanto isso, João Dória Jr. grita: "Cansei". O Lobão canta: "Peidei". Pensando, cansado ou peidando, hoje posso dizer que sou parte das estatísticas da violência em São Paulo. E, se você ainda não tem um assalto para chamar de seu, não se preocupe: a sua hora vai chegar. Desculpem o desabafo, mas, hoje amanheci um cidadão envergonhado de ser paulistano, um brasileiro humilhado por um calibre 38 e um homem que correu o risco de não ver os seus filhos crescerem por causa de um relógio. Isso não está certo.

Pensamentos de um "correria" (Ferréz)
ELE ME olha, cumprimenta rápido e vai pra padaria. Acordou cedo, tratou de acordar o amigo que vai ser seu garupa e foi tomar café. A mãe já está na padaria também, pedindo dinheiro pra alguém pra tomar mais uma dose de cachaça. Ele finge não vê-la, toma seu café de um gole só e sai pra missão, que é como todos chamam fazer um assalto. Se voltar com algo, seu filho, seus irmãos, sua mãe, sua tia, seu padrasto, todos vão gastar o dinheiro com ele, sem exigir de onde veio, sem nota fiscal, sem gerar impostos. Quando o filho chora de fome, moral não vai ajudar. A selva de pedra criou suas leis, vidro escuro pra não ver dentro do carro, cada qual com sua vida, cada qual com seus problemas, sem tempo pra sentimentalismo. O menino no farol não consegue pedir dinheiro, o vidro escuro não deixa mostrar nada. O motoboy tenta se afastar, desconfia, pois ele está com outro na garupa, lembra das 36 prestações que faltam pra quitar a moto, mas tem que arriscar e acelera, só tem 20 minutos pra entregar uma correspondência do outro lado da cidade, se atrasar a entrega, perde o serviço, se morrer no caminho, amanhã tem outro na vaga. Quando passa pelos dois na moto, percebe que é da sua quebrada, dá um toque no acelerador e sai da reta, sabe que os caras estão pra fazer uma fita. Enquanto isso, muitos em seus carros ouvem suas músicas, falam em seus celulares e pensam que estão vivos e num país legal. Ele anda devagar entre os carros, o garupa está atento, se a missão falhar, não terá homenagem póstuma, deixará uma família destroçada, porque a sua já é, e não terá uma multidão triste por sua morte. Será apenas mais um coitado com capacete velho e um 38 enferrujado jogado no chão, atrapalhando o trânsito. Teve infância, isso teve, tudo bem que sem nada demais, mas sua mãe o levava ao circo todos os anos, só parou depois que seu novo marido a proibiu de sair de casa. Ela começou a beber a mesma bebida que os programas de TV mostram nos seus comerciais, só que, neles, ninguém sofre por beber. Teve educação, a mesma que todos da sua comunidade tiveram, quase nada que sirva pro século 21. A professora passava um monte de coisa na lousa -mas, pra que estudar se, pela nova lei do governo, todo mundo é aprovado? Ainda menino, quando assistia às propagandas, entendia que ou você tem ou você não é nada, sabia que era melhor viver pouco como alguém do que morrer velho como ninguém. Leu em algum lugar que São Paulo está ficando indefensável, mas não sabia o que queriam dizer, defesa de quem? Parece assunto de guerra. Não acreditava em heróis, isso não! Nunca gostou do super-homem nem de nenhum desses caras americanos, preferia respeitar os malandros mais velhos que moravam no seu bairro, o exemplo é aquele ali e pronto. Tomava tapa na cara do seu padrasto, tomava tapa na cara dos policiais, mas nunca deu tapa na cara de nenhuma das suas vítimas. Ou matava logo ou saía fora. Era da seguinte opinião: nunca iria num programa de auditório se humilhar perante milhões de brasileiros, se equilibrando numa tábua pra ganhar o suficiente pra cobrir as dívidas, isso nunca faria, um homem de verdade não pode ser medido por isso. Ele ganhou logo cedo um kit pobreza, mas sempre pensou que, apesar de morar perto do lixo, não fazia parte dele, não era lixo. A hora estava se aproximando, tinha um braço ali vacilando. Se perguntava como alguém pode usar no braço algo que dá pra comprar várias casas na sua quebrada. Tantas pessoas que conheceu que trabalharam a vida inteira sendo babá de meninos mimados, fazendo a comida deles, cuidando da segurança e limpeza deles e, no final, ficaram velhas, morreram e nunca puderam fazer o mesmo por seus filhos! Estava decidido, iria vender o relógio e ficaria de boa talvez por alguns meses. O cara pra quem venderia poderia usar o relógio e se sentir como o apresentador feliz que sempre está cercado de mulheres seminuas em seu programa. Se o assalto não desse certo, talvez cadeira de rodas, prisão ou caixão, não teria como recorrer ao seguro nem teria segunda chance. O correria decidiu agir. Passou, parou, intimou, levou. No final das contas, todos saíram ganhando, o assaltado ficou com o que tinha de mais valioso, que é sua vida, e o correria ficou com o relógio. Não vejo motivo pra reclamação, afinal, num mundo indefensável, até que o rolo foi justo pra ambas as partes.

3.10.07

3.1

Hoje acordei com o motor um pouco mais turbinado.

No Orkut, a primeira comunidade de minha página tinha tudo a ver com esses anos todos que se passaram: 'a gente se fode, mas se diverte'.

Meu iPod, shuffle, ecoou Bicho de Sete Cabeças, a gravação do Zeca Baleiro, em meus ouvidos. Um pouco do lado direito, outro tanto do lado esquerdo. Minha mente se manteve sã.

Alguém, lá no além, estaria tentando me dizer alguma coisa? rs.

Meu presente pra mim mesmo, de minha parte, vai ser um magnífico corte de cabelo de 'déiz real'! Pura simbologia. ;)